terça-feira, 26 de janeiro de 2016

BR 364, uma velha jovem senhora…

BR-364, uma velha jovem senhora…

Região norte, Acre, uma rodovia que nasce em Limeira, interior de SP, passando por Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, e termina em Rodrigues Alves, extremo oeste do estado do Acre.
Até sua construção, só se chegava via rodoviária até Guajará-Mirim
Uma rodovia cuja função é facilitar o acesso de pessoas e dos mais diversos produtos e serviços ao interior do estado do Acre, e possibilitar às pessoas que possam vir até a capital Rio Branco a passeio, compras ou tratamento médico.
Aproveitando que meus filhos estão me visitando e passarão um período comigo antes de voltarem ao RS, pensei em fazer uma viagem para Cruzeiro do Sul, fazendo um passeio pelas cidades que estão ao longo da rodovia. Comentei meu projeto com um amigo que viaja com regularidade a trabalho pela rodovia, e o mesmo me incentivou a desistir de meus planos, e sugeriu ir direto até Cruzeiro de avião. Ao questionar o por que da afirmação dele, apenas me enviou no whatsapp uma foto tirada em uma de suas viagens realizada a pouco mais de um mês.
Ao ver as condições da estrada, que foi recentemente reconstruída, e anunciada como “aberta” o ano todo para o trecho entre a capital e a região do alto Purus, fico me perguntando o que aconteceu nesses mais de dez anos e R$ 1,1 bilhão investidos que a rodovia continua tão precária? Não sou engenheiro, mas não seria o caso de terem sidos construídos vários viadutos e mais pontilhões sobre os diversos trechos críticos dessa estrada?
Não acredito que tenham sido levadas em consideração as necessidades da população, do direito de acesso, de ir e vir, de saúde, de educação. É uma situação de total descaso com a população acreana.Produtos básicos são comercializados por preços absurdos, uma vez que os custos logísticos para as empresas que realizam o transporte de alimentos, saneantes, eletroeletrônicos e outros bens, se elevam em função das avarias e das despesas extraordinárias provocadas pelas péssimas condições da rodovia, bem como a limitação de peso para o transporte desses bens. Quem paga por isso? O consumidor, sempre!
Depois de 10 anos, mais de R$ 1 bilhão investidos, o diretor do DNIT, Sérgio Augusto Mamanny, afirma que serão necessários mais de R$ 70 milhões para reconstrução – isso mesmo, reconstrução, fazer de novo – do trecho entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul. As medidas emergenciais para tornar os trechos críticos transitáveis é uma medida paliativa, um placebo, para tranquilizar e calar os usuários, empresários e cidadãos que dependem da rodovia.
O projeto da rodovia, realizado pelo governo do estado, aprovado pelo DNIT, foi realizado de acordo com o plano original, sem alterações, o que prova que tal projeto é falho. Gastos desnecessários, material excedente, desvios de verbas que talvez tenham ocorrido – não há como comprovar tal fato, por isso o “talvez tenham”, equipes desqualificadas, empresas terceirizadas que não são fiscalizadas devido aos apadrinhamentos políticos, vários podem ser os fatores que transformam a BR-364 na rodovia dos BILHÕES. Site de notícias local publicou trechos da entrevista com o diretor do DNIT, com o seguinte teor: Nesta terça-feira, 05, o superintendente regional do DNIT, o engenheiro Sérgio Augusto Mamanny, divulgou uma nota de esclarecimento reafirmando que o órgão “não recebeu a BR-364/AC em boas condições de tráfego” do governo do Acre e que a rodovia terá que ser reconstruída em razão da “incompatibilidade de soluções técnicas” aplicadas na obra. A nota foi direcionada ao governador Sebastião Viana (PT). Mamanny concedeu entrevista relatando que as administrações petistas do Acre, responsáveis pela obra nos últimos 17 anos, entregaram a rodovia para o DNIT apresentando graves problemas técnicos.
Quanto recurso mais será disponibilizado para essa obra infinita? Não há no Acre engenheiros que possam avaliar e oferecer alternativas à construção da rodovia? Por que o Batalhão de Engenharia do Exército localizado em Rio Branco (7º BEC) não pode participar ou auxiliar nessa obra?
Enquanto as perguntas ecoam no vazio, sem resposta, as pessoas que precisam se deslocar entre Cruzeiro e Rio Branco pagam mais de R$ 500,00 por uma passagem de avião no trecho de pouco mais de 600 km. Comparando com meu estado de origem (RS), de minha cidade até a capital Porto Alegre – 640 km – o mesmo trecho custa R$ 210,00, apenas R$ 20,00 superior ao valor da tarifa de ônibus que fazem o percurso em pouco mais de 8h, onde os passageiros desfrutam do conforto nos assentos leito e semi-leito e internet Wi-Fi e da segurança dos veículos com no máximo 5 anos de uso – um dos quesitos para concessão das linhas é a renovação obrigatória de frota. Claro que não podemos comparar os dois estados, visto as condições climáticas e geográficas que os diferenciam, mas onde trechos nas mesmas condições, administrados por empresas terceirizadas, foram construídos com materiais de primeira qualidade, obedecendo e respeitando a natureza.
Em publicação de um jornal de outro estado, foi dito o seguinte: “Em rodovia onde o governo do Acre já gastou mais de R$ 1 bilhão, trafego é caótico (…) a rodovia parece um poço sem fundo, onde o governo daquele estado alega ter investido mais de R$ 1 bilhão, mas as condições atuais da estrada contradizem tal investimento”.
Empresas que utilizam a rodovia, como a empresa HERNANDES ACRE LTDA, distribuidora de hortifrutis, frios, congelados e outros alimentos, absorve prejuízos diários com diárias, veículos quebrados, produtos perecíveis que estragam enquanto os veículos aguardam por socorro mecânico. A Rodovia é um desafio desde os anos 60, mas desde o início de sua obra, levando em consideração esse tempo, a rodovia é uma velha jovem senhora: velha, pelo tempo de sua existência, jovem pelo tempo de sua construção, e senhora, pela sua aparência desgastada pelo próprio tempo.
Ao final de tudo, o consumidor assume os custos da irresponsabilidade daqueles que deveriam zelar pelo bem comum e cumprindo com o seu lema de Governo Parceiro, Povo Empreendedor.
Vamos combinar que, empreender, nestas condições, é um tanto quanto arriscado neste momento de grande crise que vive o país.

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